A presença do passado no presente, a antecipação feliz de algo bom no futuro imediato, a vertigem do instante como objeto da palavra poética, eis aí as linhas mestras do conjunto de poemas reunidos por Mario Quintana em Preparativos de viagem. Quanto mais o poeta avançava em idade, mais a alegria de viver dominava seu verso, como este volume originalmente lançado em 1987 aponta. “Velho? Mas como?! Se ele nasceu de novo na manhã de hoje...” Cada dia é um novo começo em Quintana. Não se trata de preparar-se para a última viagem, como num de seus poemas anteriores. No livro, o octogenário poeta prefere lembrar a excitação alegre que tomava conta dele, quando criança, em véspera de viagem com a família. Essa emoção é o que resume o sentido da vida, na poesia do autor. Em Preparativos de viagem, o poeta opta pelo encontro entre o passado e o futuro em momentos fugazes, de rara delicadeza. A coleção de poemas dá testemunho de que, conforme o tempo passava para o poeta, a alegria de viver vinha cada vez mais se sobrepor à melancolia, abrindo inclusive espaço para a manifestação discreta de um erotismo desabrido. Seu campo de visão demarcado pelas “grades dos próprios dedos” e pelos arrabaldes de sua Porto Alegre.