“Era uma vez...” Um livro se abre. Um filme começa. Uma história conta dificuldades e superações. Uma figura se torna o espelho para uma criança cuja identidade está em formação. Enredos seculares, imagens cativantes, canções que emocionam: tudo é feito para arrebatar. Personagens com os quais nos identificamos formam nosso ideal de “eu”. Por mais de cinquenta anos, Branca de Neve, Cinderela e Bela Adormecida ensinaram várias gerações que uma princesa, a moça perfeita, modelo de ser, é nobre, boa, cuidadosa, amiga, prestativa, bela e asseada. Perguntar por que meninas, e alguns meninos, querem ser “princesas”, é pensar o que induz as pessoas a almejarem determinados modos de vida, mesmo quando inatingíveis. Desde os anos 1980, analisar como produções criam mitos subjetivos se torna uma relevante pauta educacional e os estereótipos, modelos de ser e viver, passam a ser discutidos. Personagens acabam sendo reinventados porque padrões mudam. Princesas ogras, princesas sem príncipes, princesas indígenas, princesas sereias, princesas africanas, princesas que amam bibliotecas: ainda assim as princesas continuam indo para cozinha, as princesas são obrigadas a arrumar bagunça, princesas não podem deixar de esfregar o chão. Princesas têm muitas cores de pele, mas ainda são prioritariamente magras, ágeis e esguias, se apresentam como vencedoras que superam desafios, companheiras fiéis e jovens cheias de “encanto”. Apesar das figuras variarem, as lições continuam as mesmas. Aprender a lição é descobrir o “felizes para sempre”.