Maquiavel não viu 'O Príncipe' impresso. O Florentino morreu em 1527 e só em 1531 o seu livro foi publicado, e sem nenhum alarde. Ainda não havia chegado o seu momento que, entretanto, não tardaria. As lutas da segunda metade do século XVI vão colocá-lo em evidência e a partir daí Maquiavel nunca mais teve sossego pelos séculos seguintes; malsinado e glorificado, aquelas poucas páginas o tornaram famoso. Ao raiar do século XVIII, a imagem de bom funcionário, bom pai e bom esposo, cedeu lugar a uma figura sombria e satânica, aureolada de prestígios infernais. Ao escrever 'O Príncipe', Maquiavel tinha apenas a intenção de sair da pobreza a que ficara reduzido ao perder o emprego e ser exilado. Talvez desejasse ter um único leitor, Lorenzo deMédici, que possivelmente não o leu. Ensinava ao príncipe como se tornar poderoso, sem se preocupar com os meios, e o incitava a redimir e unificar a Itália humilhada, invadida e retalhada. Morto Maquiavel, desapareceu o objetivo que inspirou o livro. Mas seu destino é bem outro, muito maior do que a intenção imediata do Florentino. Maquiavel quis ensinar a um príncipe como conquistar e conservar um Estado e acabou sendo autor de cabeceira dos absolutistas, ao mesmo tempo em que ensinou aos liberais e ao povo os métodos daqueles. É o pensador que afirma que a única maneira de vencer o homem livre é liquidando-o.