Os manuais pedagógicos escritos para os cursos de formação de professores, as antigas Escolas Normais, a Habilitação Específica para o Magistério e os cursos de Pedagogia constituem um material, que é, como diz Vivian, "produto e produtor da escolarização". Trata-se, ainda nos termos da nossa autora, de "homogeneizar para ensinar", de "subordinar para ensinar". São livros que querem efetivamente "ensinar a ensinar". São "aplicações concretas e imediatas na sala de aula". Mas os livros de formação de professores são mais do que isso: compõem uma linguagem, uma estratégia de classificação e de ordenamento das coisas ditas. Assim, Vivian demonstra a existência de categorias que expressam o tema da avaliação nos manuais pedagógicos: "disciplinar; verificar os resultados; ordenar as classes e a escola; medir; diagnosticar; prognosticar; organizar o fluxo escolar; técnicas de avaliação". Afinal, a escola lida simbolicamente com a punição e com a recompensa. Sua trajetória não é linear e não é a mesma para todos os seus alunos. Os professores devem, portanto, aprender a discriminar, a diferenciar, a estabelecer correlações. Não é fácil. Por isso, o livro ensina. Por tudo isso, pode-se dizer que o livro é resultado, mas também um produtor da forma com que a escola se apresenta à sociedade. O manual pedagógico forma, informa e conforma as situações escolares de tal maneira que os futuros professores possam ser modelados para inscreverem suas ações na lógica e na dinâmica de uma "gramática da escolarização", que se apresenta como um corpo único de saberes, de valores e de fazeres. Os professores em formação apreendem a "forma escolar de socialização" também por seus manuais. E, com isso, construirão eles próprios suas específicas "culturas escolares". O livro de Vivian versa sobre tudo isso. São muitos os livros abordados. São múltiplas as abordagens e as funções ocupadas por esses compêndios. E Vivian passeia pela documentação, com desenvoltura e estilo.