Este livro aborda a prática escolar conhecida como período de adaptação, de modo a analisar suas vicissitudes na educação infantil, escandir o termo “adaptação” e atingir elementos implícitos dessa prática enquanto dispositivo. Fundamentada em uma perspectiva psicanalítica aliada a outros campos do saber, a obra discute a hipótese de que a adaptação, influenciada por concepções higienistas, traria riscos para a emergência de sujeitos singulares e aumentaria os conflitos no contexto educativo institucional, culminando em uma pedagogia embrutecida. Já uma perspectiva de adaptação que abarque a condição estrutural do humano de impossível completude poderia oferecer um ambiente mais favorável às singularidades, sustentando o processo de (des)adaptação como algo constitutivo, civilizatório e educativo, fundando vias para uma educação emancipatória. A fim de levantar os principais elementos desse dispositivo, a obra apresenta um recorte histórico a respeito das creches e da infância, investigando como têm sido influenciadas pelas transformações políticas, econômicas e sociais. Além disso, identificando a forte influência do higienismo sobre a educação e a infância brasileiras, culminando em concepções e práticas eugênicas e adaptativas, a obra procura explicitar as razões para a manutenção da noção de adaptação pautada pelo discurso higienista e algumas tentativas de instaurar certa resistência a tal discurso. A partir de um estilhaçamento do termo “adaptação” e de suas derivações em “desadaptação” e “inadaptação”, são apresentados dispositivos institucionais idealizados por psicanalistas, bem como recortes da experiência da autora enquanto educadora, a fim de oferecer um lugar de ruptura e subversão ao discurso pedagógico higienista.