A construção do conceito de “átomo” sempre foi um dos pilares da física, desde sua expressão mais clássica. Foi a partir das distintas representações que esse objeto adquiriu que a ciência e tecnologia atômicas foram capazes de intervir na realidade. O livro de Carolina Bertanha em mãos é um exercício de representar aquilo que não é imediatamente identificado pela percepção desatenta: os riscos “invisíveis” da indústria cimenteira e o próprio entendimento da população local sobre tais riscos. No livro, e isso é de imenso valor sociológico, tal entendimento mobiliza estratégias de adaptação a eles. Tem-se aqui uma sociologia que se envereda pelas disputas para conformar essas realidades não diretamente acessáveis e, por isso mesmo, torna-se capaz de produzir rico material para a intervenção pública. O debate sociológico vem alicerçado em sólida discussão sobre risco, mobilizando teorias das mais variadas para dar conta de múltiplas dimensões. Juntam-se a esse debate teórico os estudos sociais em ciência e tecnologia, principalmente sua vertente voltada para o entendimento público de riscos. Ao mesmo tempo, a pesquisa empírica mobiliza abordagem qualitativa por meio de estudo de caso aprofundado, permitindo o acesso aos significados mobilizados pela população local. É uma contribuição de grande valor para a sociologia exatamente por trabalhar bem e de forma integrada um rico material empírico e teorias apropriadas ao caso. Se a crise ambiental de nosso tempo é também um problema de percepção, Bertanha nos oferece em um único estudo de caso formas de representar e, ao mesmo tempo, de intervir nesse problema.