Maria Fernanda olha em volta. Quase os olhos de uma criança. Ou de um stalker psicopata, talvez apenas alguém visitando algum país de costumes muito diferentes. Tudo o que ela escreve tem o frescor do desvirginar. As imagens são fotos em letras. E você segue atrás dela pelos longos parágrafos, imagem por imagem, personagens que você já viu, sempre alguém que você já conheceu ou leu num jornal, viu na tevê, um atrás do outro, todos reconhecidos. E a rotina deles parece a sua. Sim, ela converte você em leitor stalker psicopata. E você vai, passivamente atrás da caneta dela. E você sente a dor, o nojo, o tesão, e não larga das fotos em letras. Ela faz você rir ou chorar, tudo é possível, ela faz você olhar para a humanidade, para aquilo que está dentro daqueles personagens, dentro de você, mesmo que lá no fundo. Seus olhos amarrados àquela caneta. A tinta falha, ela morde a tampa da bic, olha pra cima pensando no que vem a seguir. Você se senta e espera. Mais um pouco. Logo ela retoma. E você, avidamente, continua também. Alguns contos te assustam, te lembram do que quase aconteceu naquele dia, do que aconteceu de verdade. Você tenta fechar a capa do livro e os olhos. Mas precisa saber como vai terminar. Começa outro conto, outra perseguição acelerada e sem compaixão. E você jura nunca mais, never more. (Elidia Novaes)