QUEM TEM OUVIDOS, OUÇA

Entardece. O sol se põe no horizonte da Palestina, indicando que está para iniciar o Shabbat, naqueles longínquos anos da dominação romana, que nossa cronologia identifica como o século 1 da Era Comum. Mais uma vez, famílias e vizinhos reúnem-se para realizar seu momento de orações e recitação da Torá. Suas orações se elevam ao Deus de Israel, cujo nome não pode ser pronunciado. É o momento de homens, mulheres e crianças renovarem sua lealdade, fidelidade e esperança no Deus da salvação. Em algumas dessas pequenas comunidades, outro nome é associado ao Deus de Israel: o mashiah Jesus de Nazaré, declarado como Filho de Deus. Nesses círculos também a ele se pede direção, por meio do seu Espírito, que está entre eles. Esse cenário imaginado pode ter sido a fonte para toda a produção do Novo Testamento. É sobre isso que vamos falar nessa obra; não sobre as experiências do movimento de Jesus em si, que não temos como reproduzir, mas sobre a memória delas, e os indícios que esse material deixou desse grande trabalho de elaboração da tradição de Jesus, a partir de sua transmissão. Marcelo Carneiro