Ao contrário do Renascimento e do Iluminismo, manifestações típicas da ascensão cultural burguesa entre os séculos XV e XVIII, a sociologia como ciência positiva fundada mais tardiamente por Augusto Comte - e conceituada mais propriamente como a “concepção científica de mundo” pelos filósofos do Círculo de Viena, em 1929 - não demorou a estender suas influências sobre o Brasil. Uma das questões mais importantes desenvolvidas por Weber Lopes Goés ao longo de sua pesquisa refere-se à vanguarda intelectual exercida pelo médico e sanitarista Renato Kehl na introdução e aplicação das teorias eugenistas europeias – denominadas por ele mesmo como “religião da humanidade” -, aos problemas relacionados à saúde e educação nacional. As causas desse fenômeno talvez possam ser explicadas a partir de duas hipóteses distintas: de um lado, pelo distanciamento que a ciência contemporânea assumiu em relação aos (não menos questionáveis) ideais emancipatórios contidos no programa da modernidade; de outro, pelo desvelamento radical do pragmatismo enrustido no lema baconiano "saber é poder" na resolução dos conflitos sociais. É justamente devido a completa instrumentalização técnica do conhecimento (sinônimo da crise ou a decadência espiritual que se abate sobre a Europa em finais do novecento) que a ciência pode então se conformar, frise-se, imediatamente, às necessidades arcaicas da formação social brasileira ou, em outras palavras, aos interesses ideológicos de uma elite interessada não apenas em conservar a assim chamada "ordem e progresso", mas inclusive aperfeiçoar a prática do racismo estrutural (religioso e científico) vigente, diga-se de passagem, desde os tempos coloniais como um instrumento (político e econômico) de constante espoliação social. Neste sentido, o grande mérito do autor reside em desvendar (na mesma esteira em que, não por acaso, o vincula às críticas de Lima Barreto em Diário do Hospício e Cemitério dos Vivos – testemunhos literários daquela época), a onipotênc