O grande protagonista deste livro é a razão e, mais especificamente, a funcionalidade e o sentido da razão (tarka/yukti/nyaya) nas tradições religiosas do hinduísmo e do budismo na Índia, em seu nível de aprofundamento filosófico, e com ênfase nas tradições do Vedanta e do Mahayana, respectivamente. Os contextos ontológicos de sua atuação estão marcados pela afirmação de um princípio não-dual (advaita/ advaya), sempre-presente e todo-permeante, que é constitutivo da realidade imediata e cuja designação aponta, alternativamente, para uma super-personalidade (Vi??u, Siva, Sakti), para uma nominalidade não-personificada (Brahman, Atman, Tathagatagarbha, Buddhadhatu), ou para uma não-nominalidade (Sunyata). Invariavelmente acusada, nas esferas do racionalismo ocidental, de exercer um papel subserviente à autoridade “dogmática” da religião, e nas esferas do anti-racionalismo ocidental, de constituir um obstáculo a ser eliminado, a razão filosófica (vicara) cumpre, ao invés, nessas tradições, uma função primordial e insubstituível nos processos soteriológicos de realização cognitiva da natureza última do Real e de superação definitiva do sofrimento (mok?a/ nirva?a). A prevalência de uma ontologia não-dual, de imediaticidade metalinguística, confere à funcionalidade da razão o caráter suficiente de uma razão esclarecedora, ao invés de uma razão instaurativa.