Recuperários: um Sísifo na Argentina do século XXI conduz o leitor à pesquisa guiada por uma narrativa com tons épicos a respeito de um dos fenômenos operários mais emblemáticos da atualidade, sem deixar de lado o rigor epistemológico. Fazendo uso da alegoria a Sísifo, o mortal que desafiou os deuses Zeus e Hades e se viu condenado pela eternidade a rolar uma rocha montanha acima, o autor interpreta as fábricas recuperadas por seus próprios trabalhadores, em meio ao caos político e social da crise argentina, entre 2001-2002, como o manifesto de sujeitos que desafiaram o quadro econômico, jurídico e ideológico hegemônico, mas que, ao realizarem essa tarefa, se encontram sentenciados a produzir cotidianamente para o capital. No entanto, esse dualismo transgressão/subordinação, que parece consistir, a um primeiro olhar, num antagonismo irreconciliável, é justamente a força-motriz para que esses operários, ou melhor, recuperários, alcancem algo muito maior do que a intenção inicial de manter seus respectivos postos de trabalho. Tomando as rédeas da produção e de sua reprodução social, os recuperários assumem o lugar de epicentro para a construção de elementos que perpassam o controle operário da produção, a cultura do trabalho, a educação popular, até atingirem a construção de algo denominado “comum”. A tarefa de apresentar esse feito heroico é um convite a uma jornada que reúne mito, dialética, história e testemunhos privilegiados, passando pelo materialismo do encontro do filósofo Louis Althusser, pela história recente da Argentina e de sua crise neoliberal, por entrevistas e documentos oficiais. O leitor encontrará em suas mãos um material rico em dados, conceitos e abstrações colocados contra o pano de fundo de uma abordagem que busca combinar consis-tência e inovação teórica.