Este livro de Meli Malatesta é um dos poucos documentos disponíveis que relatam esta história negativa das políticas de mobilidade urbana no Brasil e propõem mudanças estruturais e operacionais. Analisando em detalhes a situação da cidade de São Paulo, Meli enfatiza a importância do andar a pé e os grandes problemas encontrados pelas pessoas, especialmente os de baixa renda, que não têm como pagar o custo do transporte coletivo e transitam em áreas onde é comum não haver calçadas. A autora também mostra que a maioria das pessoas que caminham requerem mais atenção, pois são crianças, jovens, e a população de renda e escolarização mais baixas. Resumindo vários estudos sobre a percepção dos caminhantes em relação às condições para andar, a autora mostra que os problemas que mais incomoda os pedestres são a existência de obstáculos ilegais na calçada, a largura exígua e o grande tempo de espera para atravessar um cruzamento semaforizado. Analisando a legislação sobre o tema na cidade a autora mostra que a sua existência não garante a qualidade do caminhar, havendo muitas infrações que prejudicam a circulação e a segurança dos pedestres. Como exceção à regra, a autora faz um passeio muito interessante sobre os caminhos diferentes para os pedestres na cidade de São Paulo, representados não apenas pelo calçadão central inaugurado em 1976, mas pelos “caminhos ocultos” criados pelas galerias da área central, de grande uso pelas pessoas e que mostram que outra forma de organização do espaço público é possível.