O relato da jornada de Pedro de Orsúa a Omágua e a El Dorado transcorre no Brasil, no Peru e na Venezuela. A narrativa se estende, portanto, por boa parte do continente americano. É surpreendente que, antes de este livro vir agora a lume, não se contasse uma publicação bilíngue, nem com uma edição crítica desta crônica de Lope de Aguirre. Com esta edição, porém, elucidam-se algumas dúvidas que persistiam em publicações anteriores em língua espanhola, de modo que, por meio dela, chega ao alcance dos leitores um texto que é do interesse de toda a América Latina. O objetivo do Relato da jornada de Pedro Orsúa a Omágua e a El Dorado foi desacreditar um grupo de rebeldes liderados por Lope de Aguirre, também conhecido como O Peregrino - aliás, O Tirano - , bem como as duras críticas deferidas por este contra as instituições coloniais. No entanto, o efeito obtido pela crônica é justamente o contrário: que se deem ouvidos a essas críticas, a esses rebeldes. Redigido em 1561, este Relato é hoje um documento sem o qual não se pode falar sobre a América. Seu tom é tão expressivo e explícito que parece ter sido escrito na atualidade. Para a história, a literatura e a filosofia, trata-se de uma obra que obriga a reavaliar antigas marcas conservadas ainda hoje pelas sociedades americanas, devedoras que são de um passado incrustado - por vezes, sem que se saiba - no futuro.