Neste romance de época, construído a partir de cartas, diários e cadernos de anotações de seus personagens, Luís André Nepomuceno cria um retrato do Brasil de 1872, mais precisamente de Minas Gerais, numa viagem da capital para o interior. É principalmente através do olhar de Florêncio Pacheco, escritor viajante, que este relicário toma forma, revelando em sua correspondência um mundo tão distante e ao mesmo tempo tão próximo. As várias vozes que surgem, na escrita dos outros narradores, ajudam a compor esse mosaico de todas as coisas, mapeando literariamente as belezas de nossa terra e também os horrores e crueldades que aqui habitam. “Por uma prosa que se equilibra entre a densidade dos diálogos com a mais erudita tradição literária e entre a conversa mais familiar e próxima com o lendário popular religioso, somos levados a acompanhar o percurso de Florêncio por um cenário de intrigas entre senhores e escravos, entre senhores e seus empregados, entre senhores, suas filhas e esposas, amas e mucamas, entre senhores do destino político do Brasil”, como bem anota Joana Muylaert em sua apresentação. As diversas camadas de leitura que entrelaçam as histórias de cada personagem com a própria história da formação de nossa sociedade, bem como o tom fluente das cartas e narrativas, tornam a leitura deliciosa. “Cabe ao leitor desvendar as nuances de sentidos plurais deste romance, alinhado a uma riquíssima tradição literária brasileira: romances de viagem e de formação, romances epistolares, romances modernos de um eu dilacerado que não se exime da responsabilidade pelas falas e silêncios das muitas vozes incompreendidas.”