Será possível sustentar a tese, como alguns pretendem, de que há um nexo causal entre religião e violência? Haverá um vínculo necessário, no sentido em que a primeira implica fatalmente a segunda? De que natureza seria esse vínculo? O muito amplo e diverso conjunto de textos constantes nesta obra visa questionar a existência dessa conexão e inviabilizar as teses essencialistas e anistóricas, que pretendem estabelecer uma espécie de lei histórica na correlação entre os dois fenómenos. Com efeito, embora haja narrativas míticas, textos religiosos, poéticos, espirituais, filosóficos, políticos, jurídicos, etc., que fazem a apologia da violência e da guerra, muito raramente tais textos (e suas receções) são literária e teologicamente homogéneos. A violência, tal como a paz e o amor tantas vezes anunciados e prescritos em muitos desses mesmos textos, diz-se e pratica-se de muitos modos. Quando um terrorista islâmico se faz explodir e ao mesmo tempo grita Alhahu Akbar! , será que se pode, legitimamente, honestamente, imputar esse ato ao Islão como tal? De modo nenhum. E quando o papa Urbano II, em 1095, apelava à Cruzada, em Clermont, conclamando: É Cristo quem manda! , poderemos aceitar que tal pregação compromete a religião cristã na sua essência? Como, se tal está nos antípodas dos evangelhos?! Tais palavras esclarecerão ou obscurecerão as relações contingentes que possam existir entre Religião & Violência?