Neste livro se demonstra não apenas a incompatibilidade entre democracia e representação política, mas também que esta funciona como entrave imposto àquela. Nada obstante, a doxa acadêmica insiste não só no caráter utópico e irresponsável de formas não representativas de democracia no mundo contemporâneo, afirmando ainda que a representação constitui a necessária mediação política sem a qual se imporia um poder totalitário que confundiria Estado e sociedade. Para desconstruir tal argumento esta obra se articula em quatro partes. Na primeira discute-se brevemente o complexo conceito filosófico de mediação, de modo a indicar que a representação política não é uma estrutura mediacional, correspondendo antes a um dispositivo de cisão da unidade originária do poder. Na segunda parte analisa-se o conceito de representação política em três momentos históricos: o medieval, o moderno e o contemporâneo. Na terceira parte desenvolve-se a ideia de democracia radical, ou seja, uma democracia da multidão não representativa e conflitiva, capaz de lidar com a diferença sem reduzi-la à unidade hierárquica. Para tanto, os elementos tradicionais da teoria do Estado – território, povo e soberania – são desconstruídos, dando lugar a novas abordagens capazes de revelar um poder político an-árquico. Na quarta parte apresenta-se os principais traços de uma (a)teologia política democrático-radical que, afastando-se dos conceitos de unidade, hierarquia, comando e soberania, desenvolve um discurso democrático calcado nas ideias de abertura, indeterminação, fraqueza, singularidade, inoperosidade e potência.