As crises geradas pela pandemia da Covid-19 transcendem seus impactos sanitários. Neste contexto, são explicitadas injustiças socioeconômicas, ambientais e de gênero que são a base do padrão da acumulação capitalista. O vírus explora os próprios circuitos do capital para chegar aos lugares mais recônditos do planeta, atingindo de forma violenta comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas. A inter-relação entre as crises sanitária, socioambiental e climática é evidente. A discussão sobre os impactos da pandemia e das mudanças climáticas não pode estar dissociada das relações sociais constituídas numa sociedade capitalista, sendo, portanto, imprescindível fazer este debate a partir das questões de raça, gênero e de classe. Esta conjuntura também explicita a insustentabilidade e o avassalamento do modelo neoliberal extrativista e agroindustrial que destrói territórios e devasta a vida. Em um cenário de aniquilamento da legislação ambiental, não é somente a devastação de vegetação nativa em diversos biomas que aumenta, como também os conflitos no campo e a violência contra os povos indígenas nos confrontam diariamente. Esta publicação, produzida em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo, foi escrita por mulheres integrantes de organizações, movimentos sociais e pesquisadoras, e traz uma reflexão coletiva sobre temas como o retrocesso de direitos duramente conquistados; a violência institucional do Estado; a desregulamentação da política de proteção ambiental; as múltiplas violências sofridas pelas mulheres no contexto da pandemia e a falta de acesso a alimentos de qualidade, agravada com a crise de insegurança alimentar que estamos atravessando. Por fim, as reflexões das autoras destacam as campanhas de solidariedade e de cuidado coordenadas pelos movimentos e organizações sociais, que compõem os processos de resistências e de (r)existências.