Os textos reunidos neste volume são uma pequena amostra do intenso e profícuo diálogo entre dois dos mais importantes poetas de vanguarda de nossa literatura: Oswald de Andrade e Haroldo de Campos. É certo que o contato pessoal entre eles foi pouco; Haroldo conhece Oswald em 1949, o modernista falece em 1954, porém o diálogo ao qual me refiro, muito mais literário do que literal, perdura por décadas. Se, por um lado, Haroldo ajuda no processo de resgate e constrói fortes chaves de leitura da obra do antropófago, por outro, os temas oswaldianos vão gradativamente assumindo lugar de destaque dentro do pensamento crítico-poético do concretista.
A parte mais conhecida desse trabalho de recepção empreendido por Haroldo de Campos se encon-tra nos prefácios e estudos introdutórios das reedições das obras de Oswald de Andrade, dentre os quais se destacam “Miramar na mira” (1964) e “Serafim: um grande não-livro” (1971), dedicados, respectivamente, aos romances Memórias sentimentais de João Miramar e Serafim Ponte Grande; além desses, “Uma poética da radicalidade” (1965), dedicado ao estudo das Poesias Reunidas, tam-bém merece destaque. Contudo, como veremos por meio da nossa seleção, há muitas outras produ-ções haroldianas sobre a obra de Oswald, tão relevantes quanto as já citadas, que ficaram restritas às suas publicações originais em suplementos e/ou revistas literárias da época. Assim, parte dessa rica história, que vai dos anos 50 até os 90 do século passado, fica, se não de todo apagada, ao menos turvada por conta do difícil acesso a vários desses textos. E é esse turvamento que pretendemos di-minuir com a publicação desta ReVisão de Oswald de Andrade, dando ao público leitor interessado tanto em Haroldo quanto em Oswald, ou mesmo na poesia brasileira de vanguarda como um todo, num único lugar, em edição com estudo crítico, acesso a esses textos dispersos.
A obra foi organizada por Thiago de Melo Barbosa, e coeditada pela Editora Madamu em parceria com o Centro de Referência Haroldo de Campos da Casa das Rosas, por meio de parceria com a Poiesis, a Casa das Rosas e a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.