É estranho, na verdade, é assustador, pensar o quanto o Brasil mudou desde que lançamos pela primeira vez, em reunião de pauta, há mais de um ano, a hipótese de realizarmos uma reportagem sobre as pessoas que – de boa-fé e motivadas por suas religiosidades – se lançam pelo mundo com o intuito de levar uma palavra, um gesto de solidariedade, de acolhimento e esperança ao outro. Por vários meses voltávamos ao assunto, discutindo como trataríamos de um tema que nos parecia relevante sem trazermos para a revista qualquer conotação evangelizadora. Nosso intuito era observar alguns dos missionários que atuam hoje e quais as suas motivações e práticas. O contexto político e social do Brasil, no momento em que fechamos esta edição e escrevemos este editorial, faz com que nossa intenção pareça ingênua e deslocada. Como falar de missionários quando gestos de ódio e intolerância gerados pelo momento político grave tomam conta das nossas relações? E de que missionários gostaríamos de falar? Decerto, não daqueles que usam a Bíblia para doutrinar e oprimir, mas para agir com amorosidade, esclarecer e fortalecer os que sofrem desigualdades sociais. (...)