No réveillon, muitos brasileiros foram às praias para festejar a chegada de 2020, com brindes, abraços, oferendas à Yemanjá, promessas e queima de fogos de artifício. Escolher o mar como ambiente propício para receber, junto a amigos e familiares, um novo ciclo do calendário é uma forma de atribuir ao espaço litorâneo a função de renovar, purificar, reenergizar o corpo e alma. Essa escolha, quase intuitiva, também se manifestou, séculos atrás, na medicina, quando esta passou a indicar, com frequência, idas à praia para tratar vários males, incluindo a depressão (algo que os cientistas depois constatariam em estudos). A partir de então, o ambiente deixou de ser entendido como selvagem, sujo e perigoso para ser um espaço de cura, lazer e moradia. A mudança no entendimento da função da praia tanto acompanhou quanto influenciou o desenvolvimento da sociedade, exercendo papel transformador no comportamento humano, no urbanismo, na economia, na cultura e na política. Essas transformações estão registradas na matéria de capa desta edição, que inicia este novo ano. Integram a reportagem, escrita pela repórter especial Débora Nascimento, depoimentos de pessoas que tiram seu sustento desse lugar. “Essa praia é uma empresa, dá de comer a muita gente”, afirmou o vendedor de vestidos Jaklekle de Porto, que trabalha nas areias de Porto de Galinhas. (...)