REVISTA PERNAMBUCO - ANO 1 - Nº 3

Em 5 de novembro de 1967, o jornalista Danúbio Rodrigues publicou no Jornal do Comércio do Amazonas o artigo "Um grande escritor que não chegou ao Brasil". Era sobre Julio Cortázar. Daí ele mencionar logo no início a “Palma de Ouro” ao filme Blow-Up, pois estava em parte baseado num conto do argentino, “As babas do diabo”, do livro As armas secretas. Na verdade, o filme ganhou o Grand Prix, pois a Palma de Ouro não foi concedida no período de 1964 a 1974.

No fecho do seu artigo, outro romancista – que começou sua carreira de narrador sendo notado como roteirista de cinema – é citado. Numa lista de latino-americanos também desconhecidos nestes alegres trópicos. Chamava-se Gabriel García Márquez, colombiano de Arataca.

Justamente nesse ano de 1967 ocorreu o explosivo sucesso da sua obra Cem anos de solidão. Passou a fazer parte do famoso boom, mescla feliz de marketing e qualidade estética de autores que, a partir do seu reconhecimento na Europa, passaram a ser “profetas” da grande literatura também na sua terra.

Neste março de 2024, 10 anos após a morte de García Márquez e 57 do seu livro mais famoso, sai um livro póstumo, tema da reportagem de Maurício Melo Júnior. Entre os ingredientes do seu texto está o resultado de suas conversas com o escritor e tradutor Eric Nepomuceno. Outro destaque é o perfil do poeta Marcelo Mário Melo pelo jornalista Gilvandro Filho. Além de ser sobre a sua poesia, a prosa tem o foco em 1964, ano em que teve início a ditadura militar-civil do Brasil. A poesia é uma arma carregada de futuro, disse o poeta espanhol Celaya; lutar com palavras é a luta mais vã, secundou o brasileiro Drummond. No entanto, MMM preferiu ir além da retórica e pegou, literalmente em armas contra o regime de direita, e acredita que não foi em vão.

Embora não haja um estudo sobre os poetas que no Brasil foram “comunistas de carteirinha”, se algum dia houver, além de MMM, deve ser incluído na lista César Leal, cujo centenário de nascimento motiva o dossiê deste mês.