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Sinopse
Poucas coisas podem ser mais opostas. De um lado, a literatura absolutamente sofisticada e visual, de João Câmara. Do outro, o que muitos nem literatura propriamente consideram, de proteica expressão oral: a dos aedos, jograis e rapsodos... a dos fazedores de sons com sentidos do repente, do rap, de hip-hop e outros ritmos e rictus.
No caso de João Câmara há um elemento a mais – e este “mais” ainda diz pouco –: trata-se de um dos maiores pintores nascidos no Brasil. Que está, neste janeiro, no dia 12, completando 80 anos de idade. Os extraordinários resultados na arte pictórica foram também alcançados por ele na literatura. Apenas com a singularidade de que o talento de narrador – de contista em particular, o mais difícil gênero na Prosa – passou a ser conhecido em livro na maturidade do autor.
Poderíamos, a partir dele, propor um curioso clube dos escritores tardios. Um grande assunto, aliás, para mais de uma reportagem. O oposto dos florescidos precocemente, como o Rimbaud, tema do dossiê desta revista na edição anterior. Mary Wesley e Harriet Doerr são dois bons exemplos, mas há outros, como Millard Kaufman. Casos que desmentem a afirmação taxativa de certo pintor frustrado que se chamou Adolfo: “Hoje estou firmemente convencido de que, em geral, é na juventude quando aparece no homem o essencial do pensamento criativo”. Ou talvez o que coubesse em 1924 já não sirva tanto em 2024. Não faz muito, Toyo Shibata tornou-se um best-seller, com quase cem anos de idade. Publicando poesia.
Seriam todos os poetas partes de uma mesma confraria? Toyo Shibata teria uma boa conversa com Kool G Rap? Tudo o que envolve poesia não implica se limita a uma resposta apenas. Não falta sequer quem não considere a poesia como parte da literatura, e sim um segmento próprio. Que os teóricos gastem suas horas e ganhos produzindo respostas copiosas e estéreis, enquanto os poetas, os “Mestres de Cerimônia”, os cantadores se esmeram no fazer, no fingir, no fabricar. Inclusive no que parece “mero” improviso, instantâneo…
A História sempre tem algo a ensinar para quem deseja aprender. O mestre Câmara Cascudo nos faz lembrar Paul Sébillot, estudioso das literaturas populares, quem teria cunhado o termo “literatura oral”. É sobre esse “domínio” e suas vizinhanças o dossiê deste mês. Aquém e além da letra-escrita. Numa feição específica: oralidade urbana de importação.
Diz-se no Novo Testamento que “o vento sopra onde quer, e ouves seu som; mas não sabes de onde vem, nem aonde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito”. A literatura falada tem um pouco disso, embora bem seja sabido de onde vem e aonde vai. Conhecer um pouco desse riquíssimo universo pode ser estimulante aos professores e estudiosos/estudantes. Desafio que multiplica-se, inclusive em desafios, como neste trecho da peleja entre dois repentistas:
Você ficando mais véio,
E ainda se arrenovando,
Tornando a nascê dez vez,
Todas as dez se batizando,
Todas as dez vindo cantá,
Todas as dez sai apanhando.
Mário Hélio | Editor
Ficha Técnica
Especificações
ISBN | 2500000003912 |
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Pré venda | Não |
Editor | CEPE |
Peso | 131g |
Editor para link | CEPE |
Livro disponível - pronta entrega | Sim |
Dimensões | 28 x 21 x 0.5 |
Idioma | Português |
Tipo item | Livro Nacional |
Número da edição | 1ª EDIÇÃO - 2024 |
Código Interno | 1083658 |
Código de barras | 2500000003912 |
Acabamento | BROCHURA |
Editora | CEPE ** |
Sob encomenda | Não |