Rinoceronte reúne dezoito poemas em prosa, escritos em estilo conciso e lacunar, em frases curtas e muitas vezes nominais, de tom rascante e apocalíptico. Os poemas se constroem por acumulação de imagens contraditórias e atordoantes: “ir em frente para trás” (“Aos trancos”); “ainda enquanto se constrói o desmonte” (“À toda”); “a noite é de dia” (“Engrenar”); e como diz o poema que abre o livro: “tudo demorou muito rapidamente” (“Estrato”). Certos animais acorrem com frequência nos textos e compõem um bestiário de corpos incompletos e indiferentes. É o caso dos cães (“um rabo de cão cada vez mais ao longe”), aves (“um pássaro exceto seu par de asas”) e insetos (“Um pernilongo sobrevoa o anticadáver”), além do rinoceronte que dá título ao livro. Em “Engenho”, um “rinoceronte sem freios” se junta a um navio encalhado no horizonte, asas de pedra, uma flor de ferro e um bonde que não passa. Algumas construções apontam para o paroxismo de tempos extremos: “A noite era muito além da escuridão” (“Estrato”); “as forças estão agregadas para a paralisia” (“Império”). Temas contemporâneos, como o nomadismo, a violência e a exclusão ganham formulação exasperada em “Perspectiva” (leia ao final). A forma da escrita também se adequa ao teor de violência e negatividade dos poemas. Todos os textos são formatados da mesma maneira: justificados, em blocos maciços que realçam a solidez e a impenetrabilidade do universo retratado. Para a capa, a artista gráfica Luciana Inhan desenhou uma fonte exclusiva: o título do livro é feito de letras maciças como o corpo de um rinoceronte. O projeto gráfico é de Sílvia Nastari, diretora de arte da Quelônio. Os livros foram costurados à mão, por Júlia Estronioli. Edição numerada de 200 exemplares.