Rosa Maria, Afeto de Deus é daqueles livros que a gente não consegue parar de ler até chegar no final. Como “descobridor” da heroína Rosa Egipcíaca – que foi enredo da escola vice-campeã no Carnaval carioca de 2023 – ao terminar a leitura dessa recriação da vida aventurosa da “maior santa do céu”, que terminou seus dias nos cárceres da Inquisição de Lisboa, escrevi para a autora, Bárbara Simões, qualificando sua obra como “atraente, erudita, ousada”. Rosa Egipcíaca, Afeto de Deus é um livro atraente pela história rocambolesca de sua protagonista, que, abusada pelo seu senhor aos 12 anos, prostituta por décadas nas Minas Gerais, converte-se e funda no Rio de Janeiro um recolhimento para ex-madalenas arrependidas, tornando-se alvo de fanática adoração por parte de devotos, incluindo beatas e frades do alto clero. Trata-se de um livro erudito, pois Bárbara Simões resgata com maestria o cotidiano de Mariana e das minas circunvizinhas nos meados do século do ouro, levando o leitor para dentro dos miseráveis casebres, de suas belas igrejas barrocas, dos arraiais e faisqueiras onde multidão de africanas e negros interagem com reinóis e aventureiros. Livro ousado por revelar as mazelas da escravidão, do machismo, das desigualdades inerentes à sociedade colonial, sem medo nem pejo de escancarar a crueldade de uma realidade marcada pela violência e desumanidade. Livro fantástico! Boa leitura.( Luiz Mott)