As personagens, que aqui apresento, tiveram, regra geral, vidas duras, de privações materiais. Muitos garantiram o seu sustento trabalhando de sol a sol, porque "o dia em que se não come é um dia a menos para a morte". Ostentavam nas suas faces as marcas do tempo e do trabalho árduo: eram rostos enrugados e retalhados, que se assemelhavam aos trilhos que percorreram, olhos fundos e lábios encolhidos devido à falta de dentes. Os sulcos nos rostos, a tez escura que ostentavam foram, durante décadas, expostos à inclemência do excesso de exposição ao sol e ao frio. Faziam lembrar o granito com os seus veios e a sua textura. Estas faces duras faziam jus aos locais onde sempre viveram e trabalharam arduamente, as courelas e as hortas, recortadas por perfis graníticos no horizonte. Toda a zona onde decorrem os episódios aqui apresentados é, em termos geológicos, granítica, com afloramentos rochosos de grande e pequena dimensão, deixando, aqui e ali, espaços generosos e libertos que constituem zonas planas de prados, que permitiam a agricultura de subsistência. Apesar de apresentar um aspeto, para quem observa de longe, algo árido, a vertente norte do concelho de Marvão é rica em imensas fontes e nascentes, cuja água brota do meio dos rochedos o que permite a existência de muitas hortas, onde se cultivava de tudo um pouco. A existência destes proeminentes rochedos por todo o lado põe o imaginário a funcionar. Há pedras que parecem rostos, animais e bancos com encosto para quem for contemplativo e se quiser sentar a apreciar este maciço pedregoso, repleto de esculturas naturais, quiçá, esculpidas por uma força maior no início da formação do planeta.