Este livro trata de um tema caro aos filósofos políticos modernos: o surgimento da sociedade como produto humano, e não natural como pensavam os antigos, nem divino conforme crença medieval. Este detalhe é muito importante: o homem não pode lutar contra, nem mudar o que foi estabelecido pela Natureza ou por Deus; mas pode fazer isto com tudo que é produção humana. Nada é eterno, nada é intocável. A ideia básica bem conhecida é que o homem passou de um estado natural ("sans foi, sans roi, sans loi") para um estado civil. Este processo, no caso de Rousseau, foi mal conduzido, levando o homem a perder dois bens preciosos: a liberdade e a igualdade. Termos cujo entendimento é de explicação difícil, tanto que existem várias concepções filosóficas, algumas até opostas. O trabalho de José Meramolim Santos explora bem esta situação, cuja responsabilidade é inteiramente do homem: antissocial e bom por natureza, caiu na armadilha daqueles que se aproveitaram da sua ingenuidade, para justificar a posse de uma propriedade privada e depois o trabalho subordinado. E assim se cria o homem social, porém eternamente dividido entre natureza e sociedade, sofrendo com esta cisão interna, que o faz viver de aparências e da opinião do "outro". Sem se concentrar sobre a solução teórica rousseauniana, Meramolim preferiu destacar o retrato psicológico e antropológico feito por Rousseau: esta atenção à problemática humana e aos seus sentimentos contraditórios faz do escritor genebrino algo totalmente original e instigante, dentro do panorama iluminista preocupado mais com a exaltação da razão.