'Rubem Braga - Um cigano fazendeiro do ar', do jornalista e escritor Marco Antonio de Carvalho, segue a tendência contemporânea, não apenas brasileira, mas internacional, das biografias que se podem dizer profissionais. O livro possui 267 entrevistas na preparação, levou dez anos para ser finalizado, tem 448 páginas, das quais vinte são de bibliografia. O livro se inicia 'in medias res', no meio da ação, para usar a expressão da teoria literária. E ação e literatura são, aqui, termos pertinentes: de um lado, porque a longa vida de Rubem Braga teve episódios como o da sua participação na Segunda Guerra, como correspondente (não por acaso, onde o livro começa, num episódio cinematográfico); de outro lado, porque o biografado não é outra coisa senão escritor. Assim como o xadrez é considerado muita ciência para ser um mero jogo, e jogo demais para ser uma ciência, a crônica é jornalismo demais para ser literatura, e muita literatura para ser somente jornalismo. Partindo desse gênero híbrido, ou melhor, ambivalente (cujo valor tem dois âmbitos), Rubem Braga firmou-se como o maior cronista do país, o criador da crônica moderna e, por fim, o homem que transformou a crônica, para além de sua ambivalência de origem, em literatura.