Poesia das entranhas, de apelo vertical, telúrico e ígneo, em permanente diálogo com o vento, o tempo e com a força incontida da expressão, os versos de Tenille falam de um corpo indócil, da quimera das navalhas, dos anzóis que esqueceram a pesca, das fontes que permanecem puras, da permanente madrugada do espírito e da solidão das obras.Seus poemas sempre me emocionam pela capacidade de metamorfose e de fúria.Em sua metamorfose encontro o seu profundo silêncio, cheio de dor profunda que ela, às vezes, parece querer esconder. Noutros casos, seus versos gritam, sem ofensas, dramas ou escândalos, por vezes, sua liberdade é desconcertante. Seus poemas flertam com o pensamento e a filosofia, mas sobretudo com uma estética da existência. Nesta estética, surgem imagens que evocam mitos, deuses, ritos secretos, mini-narrativas, sussurros mágicos, orações, inscritas sob a sutileza da imensidão: “Miro o infinito / livre de tudo / faço da vida / eterno correr”. É isto o que está nas entranhas de cada um dos seus poemas: a liberdade e o infinito, por isso mesmo eles são selvagens, possuem a animalidade das forças celestes, a insubmissão dos cavalos não domesticados, a sinestesia do sangue.Sinto que seu corpo e sua poesia são o mesmo território: paisagens quentes, loucamente incertas; limites que escapam; campos abertos e trilhas inundadas de sol.Texto de orelha de Gustavo de Castro