O leitor poderá identificar, nesse texto, algumas sínteses analíticas e argumentações que resultam dos processos de pesquisa e cooperação que realizamos desde 1996, notadamente trabalhando com camponeses e cidadãos da periferia urbana. A partir das pesquisas realizadas sobre o território e a questão agrária, bem como das reflexões feitas sobre os procedimentos de pesquisa e, principalmente, com base na nossa práxis de cooperação com as gentes do povo tentamos, nessa oportunidade, avançar um pouco mais na compreensão do processo de colonização feito na América Latina e de uma possibilidade para repensar e refazer a ciência. Por isso, partimos de uma sucinta reflexão sobre a formação dependente e exploradora da América Latina considerando, a partir dessa problemática, a vital importância dos saberes indígenas, afrodescendentes, camponeses e operários para subsidiar e sustentar a possível construção participativa, dialógica, solidária e popular do conhecimento. Portanto, também assume centralidade, na nossa argumentação, a ousadia de tentar contribuir para a produção de uma abordagem territorial descolonizadora centrada na pesquisa/participante-cooperação/participativa, bem como em princípios orientadores da ciência popular, preferencialmente, feita com e para o povo, por dentro e por fora das nossas escolas. Assim, também são fundamentais as noções de territorialidade e temporalidade, juntamente com a práxis cooperada e solidária, participativa e dialógica, num movimento de (in)formação, luta e resistência contra a opressão, a degradação ambiental e cultural, contra o Estado burguês e a acumulação ampliada do capital. Trata-se, desse modo, de uma descrição analítico-reflexiva a partir do que fizemos e fazemos tentando, cada vez mais, trabalhar com as nossas gentes mais simples e humildes, do rural e do urbano, numa práxis territorial contra-hegemônica.