"O corpo está apertado num vestido de tafetá longo, sensual, cor de rosa, brilhante. A fenda profunda, no lado direito, revela uma coxa rija, forte e bem torneada. Equilibrada num sapatinho de cristal (acrílico, para os íntimos), com 15 centímetros de altura, Salete Campari está chocante, estilo cheguei e ansiosamente feliz. A peruca boneca Barbie, falsa, farta, com o mesmo penteado de Marilyn Monroe, não tem um fio de cabelo loiro fora do lugar. O batom, em tom rosa-dourado, é retocado várias vezes. O resto da maquiagem, pesadíssima, com sombra no mesmo tom da boca, parece um reboco: não escorre, não sai do lugar. Fica intacta e perfeita a noite inteira..." Ele é Francisco Sales Rodrigues, 33 anos, formado em Matemática, paraibano de Araruna, mais conhecido como Salete Campari. Sua história impressiona pelo poder que ele tem em transformar a dor em uma incontida alegria, em esconder o sofrimento com uma vibrante força de vontade, em responder ao preconceito com um sorriso gentil, porém sempre irônico. Pela primeira vez, uma drag queen brasileira tem sua história de vida transformada em livro. A jornalista Angela Oliveira, depois de inúmeras conversas com o Sales-Salete, seus amigos e personalidades, traça, em 'Salete Campari - uma drag queen', este perfil impressionante de um menino do interior da Paraíba, cuja perda repentina e precoce dos pais o estimulou a migrar para São Paulo, como tantos outros, em busca de uma vida melhor. Neste livro, Salete conta como era viver no sertão nordestino, como foi vir de caminhão para São Paulo, as dificuldades por que passou (como os maus tratos do pai e do irmão). Como a descoberta do amor deu novo rumo a sua vida, ao sentir-se completamente apaixonada por um militar, com quem viveu, por 16 anos, uma linda e triste história de amor. O tititi da noite, o disse-me-disse das drags, os golpes baixos, as intrigas, a ilusão das personagens de cada um sempre em busca de atenção e fama.