SALMODIAR

Engana-se terrivelmente quem acha que os poetas não sabem das coisas. Versos curtos, poemas pequ+L3:AF30enos, um happening de linguagem, o tempo feito farpa na pele incauta da inteligência rasa, ou, quando mundo, uma ferida fina na sensibilidade dos mais delicados, e a leitura passa como se... Como se fossem apenas uns poemas; texto besta, que passa. Mas quê! Não passa. “Onde existe dor”, o poeta cita Oscar Wilde, “o chão é sagrado” (p. 39). Onde persiste a poesia, a dor nunca é passageira. Dir-se-ia que o sal está para a comida como a dor para a existência. E há todo um sal de sabedoria atravessando não só o paladar de quem sabe ler esses poemas desse novo livro de Wilbett Oliveira, Salmodiar (2011), mas também a cozinha inteira do poeta que, depois do estonteante Salignaliguagem (2011), põe mais lenha no fogareiro e serve, em pratos de difícil porcelana (as páginas), uma reflexão poética sobre a mais enigmática região da realidade humana: o mal. (Por Abrahão Costa Andrade)