Por desgraça, como Aristóteles, ainda que em menor escalar, Santo Tomás é de difícil acesso aos modernos. A abstração levada ao extremo, a brevidade das fórmulas e o caráter especialíssimo de seu vocabulário desconcertam. Seu método é severo. O costume de abordar os problemas por seu lado mais “formal” — formalissime loquitur divus Thomas — confunde visivelmente os espíritos acostumados a proceder por desdobramentos e aproximações sucessivos. Encontrando-se, geralmente, sua doutrina recortada em artigos, dos quais cada um não fornece mais que uma pequena parte de verdade, e sendo a ligação de um artigo com outro difícil de estabelecer, o leitor ocasional experimenta a impressão de que os problemas estão reduzidos, ou que isso faz a doutrina distanciar-se consideravelmente, ou que se responde apenas a um curto número das dificuldades que ela suscita. É que, realmente, o artigo consultado não contém senão um aspecto do problema abordado, o resto encontra-se em outro lugar, melhor colocado, mas também isolado, de forma que fica a sensação de que contemplamos um talento, mais precisamente, limitado. Daqui a impossibilidade de consultar, propriamente falando, Santo Tomás. É preciso assistir a sua escola, conhecer suas obras como o guarda conhece o bosque, ver retornar, sempre variados em suas aplicações, os princípios reitores pouco numerosos, mas de uma fecundidade surpreendente, familiarizar-se com eles e com a ordem que preside a sua realização. Este é um trabalho ao qual poucos consentem submeter-se. Nós gostaríamos de ajudar aqueles que não se desanimam em vista do esforço de voltar-se à obra pouco conhecida, no fundo, do Doutor Angélico.