Encerrando o segundo ano d'A Colecção (coleção de poesia portuguesa apresentada por poetas brasileiros), apresentamos o inédito São Miguel da Desorientação, de Miguel Martins. Esse, que é o 27ª trabalho da carreira do autor, e o primeiro volume em livro a ser publicado no Brasil, confirma Martins como um dos nomes mais atuantes e inventivos da poesia feita hoje em Portugal. De acordo com o poeta Ricardo Domeneck, responsável pela seleção dos textos e pelo posfácio da obra, "o que se desdobra a partir deste livro parece-me uma poesia consciente das limitações carnais e históricas a que todos nós estamos submetidos, mas também embrenhada nos muitos prazeres e fúrias que nossos corpos experimentam ao longo da vida, em direção sim à morte e à perda, mas por um tempo de coragem e afirmação também balouçados de experiência, ainda que como um navio numa tempestade". Domeneck, ainda no posfácio, acredita que São Miguel da Desorientação é uma obra de difícil classificação, "pois é uma poesia lírica acordada em meio ao furacão do mundo, que sabe que nossos amores também caem na boca das beatas e dos fiscais do cu alheio, um lirismo que conhece bem como a bolsa de valores por vezes destrói casamentos e filhos, e que o que comemos e bebemos e tragamos está sob o controle das leis escritas por aqueles que não entendem o direito ao prazer e ao esquecimento. É um livro político no sentido mais estrito de pólis: palavras dadas aos corpos vivos, em constante rodízio de mortes e nascimentos, que formam a cidade de pedra, cimento e tijolos que coabitamos."