Saraminda, essa mulher sedutora que empresta seu nome ao último romance de José Sarney, é uma personagem fascinante. Quando está para ser leiloada antecipa-se e surge, enérgica, com apenas 15 anos, e proclama: não sou de leilão, sou de Cleto Bonfin . Ou seja, não é mulher para estar à venda. Ela mesma se negocia, selando, assim, sua sorte, sua sina, assim como a sina, o destino, da narrativa. A partir desse jogo de sedução, que envolve linguagem, personagens laterais, a comunidade do ouro e a luxúria, aquela Salomé de Caiena comanda o corpo e a alma. É dona de seu corpo a ponto de ser novamente virgem quando quer. Torna-se definitivamente um símbolo inesquecível frente ao qual as noções de bem e de mal não significam muito. Eu creio que José Sarney conseguiu algo muito difícil para um autor, que é fazer uma região mítica, buscar um território literário, popular esse território e nos convencer, nos fazer perder a descrença na história. Nós, como leitores, nos deixamos seduzir e entregamos naquele momento nosso destino estético às imposições estéticas de seu autor. Nélida Piñon