Ao publicar Une renaissance sartrienne (Gallimard, 2013), onde reúne entrevistas feitas com intelectuais, professores, artistas e políticos em diferentes países do mundo, Annie Cohen-Solal, principal biógrafa de Sartre, diz-se impressionada com a retomada do estudo da obra do filósofo nas mais importantes universidades europeias e americanas. Diante de tal redescoberta de Sartre, profetizada por Barthes nos anos 70 e pessoalmente confirmada por Cohen-Solal recentemente, e diante do rapport do Grupo de Estudos Sartreanos, que se reúne anualmente na Sorbonne no dia 21 de junho (dia do nascimento do filósofo), de que Sartre é hoje “o escritor-filósofo mais estudado e mais citado de seu tempo”, uma pergunta se impõe ao pensador transdisciplinar da psicanálise: Poderá o pensar psicanalítico contemporâneo permanecer indiferente a esse autor, quando suas ideias não cessam de fazer trabalhar as maiores inteligências dos grandes centros de pensamento em Humanidades? Minha resposta, como psicanalista, escritor e pensador da psicanálise materializa-se neste livro. Sartre soube, como nenhum outro autor, captar o essencial da subjetividade do homem contemporâneo – e isso não se limita ao vazio ou à desolação do pós-guerra. Que Bernard-Henry Lévy o apresente como o filósofo do século, em seu Le Siècle de Sartre, publicado nos 20 anos de sua morte e no primeiro ano do século XXI, bem diz da sua sustentada importância nos campos filosófico e literário; sua importância para a psicanálise é a fortiori confirmada. Sartre soube apontar a perda da dimensão existencial no marxismo, na psicanálise e, desde o início, também no estruturalismo, ao qual se referia como um “positivismo dos signos”. Esta ausência é justamente o que decreta o declínio do formalismo e conduz a um pós-estruturalismo a partir do qual a psicanálise contemporânea precisará ser necessariamente redescrita.