Este é um trabalho sobre o processo de grilagem de terras no território do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga (SHPCK), no nordeste goiano. A história contada aqui ainda está tendo desdobramentos, tornando necessárias retificações futuras. O leitor encontrará nas páginas que seguem uma narrativa que se confunde com o realismo mágico latino, contada segundo as experiências de um jovem universitário branco que reconhece os privilégios trazidos por essa cor de pele. Meu objetivo é olhar para esse processo sob um prisma antropológico; narrar com precisão todo o caminho que percorri, descrevendo com minúcia os indícios de grilagem encontrados nos processos analisados, as incursões a campo, as horas de entrevistas etc. Apesar de um recorte espacial pequeno — cerca de 38 mil hectares que compõem a Fazenda Bonito —, os fatos aqui registrados refletem a afirmação de que a história brasileira é, na realidade, uma história de luta pela terra. Este não é um texto neutro. A pesquisa foi ferramenta para garantir que toda a área da Fazenda Bonito seja reconhecida como patrimônio da comunidade Kalunga. A ausência de neutralidade não foi um problema, dado o reconhecimento da validade das informações aqui contidas por técnicos do Ministério Público Federal. O texto conta com uma apresentação, uma introdução, cinco capítulos e um epílogo. Na introdução está descrita a motivação da pesquisa e os pressupostos iniciais; no primeiro capítulo, o que é grilagem de terras; no segundo, as possibilidades de análise de acordo com a Antropologia; no terceiro, a apresentação do caso estudado; no quarto, as personagens da história; no quinto, os desdobramentos e as formas de resistência. O epílogo é dedicado a um momento posterior à escrita da monografia, uma qualificação informal do texto, adiantando críticas e debatendo o antirracismo dentro e fora da academia.