O século xx foi buscar uma palavra terrível e vaga, aparentemente técnica e cheia de segredos, ao seu predecessor, o século XIX. O termo ideologia, reservado então a alguns iniciados, torna-se mais tarde o veículo das grandes ondas de história e de pensamento. Protagonizado por grandes massas, torna-se também ele uma onda material ou mesmo uma sucessão violenta de vagas. E, no entanto, pertence à filosofia: através dos seus dois componentes, provenientes directamente do pensamento grego, embora se tenham encontrado na língua francesa. Mas pesados aparelhos de Estado reservaram-lhe campos particulares de actuação na História. A língua russa, a chinesa e muitas outras deram o seu nome a outras funções plenas das maiores energias e do maior perigo. Outros aparelhos reproduziram-na num equivalente não menos temível, extraído também aos filósofos, a Visão-do-mundo. Weltanschauung e Ideologie também partilharam, durante algum tempo, entre si o universo da violência e da repressão. Estamos aqui nos confins da sabedoria e das suas loucuras. Encontraremos figuras que são monstros mas igualmente farão referência a outros mensageiros, os animadores de mensagens de finura, precisão, de ironia. Como perceber estes paradoxos e singularmente os do quadrilátero Hitler-Estaline e Nietzsche-Marx? Porque estes dois últimos nomes foram forçados a estar simultaneamente implicados nesta referência, o culto dos ideólogos - na desconstrução virulenta que é exercida sobre os outros dois. Será portanto necessário percorrer todos estes caminhos. Que nos preparam a cartografia do século vindouro. Até mesmo nos casos em que teríamos, precisamente por cegueira ideológica, recusado sabê-lo.