Tentativa de aprofundar a experiência do segredo na infância - como as crianças experienciam a dimensão do segredo - até à visão de toda a infância ser o próprio segredo. Esta dimensão sigilosa da vida humana é ilustrada, nesta obra, por testemunhosrecolhidos junto de diversas pessoas, relativamente às suas lembranças de infância. Para uma compreensão mais global, os autores abordam, também, o contributo da literatura universal e da pintura. Formulam a questão da possibilidade do segredo do ponto de vista filosófico e psicológico. Na criança, a descoberta e vivência do segredo significa o surgimento da interioridade (e, futuramente, de uma identidade pessoal), na medida em que a criança se torna consciente de que há um espaço interior onde pode "guardar coisas", sem que os outros o saibam. O segredo está ligado a várias dimensões da nossa vida relacional como a privacidade, a fantasia, a reserva, e, até, a mentira. Dimensões que têm uma linguagem própria. O nosso corpo, na comunicação e atitudes que assume, ao lidar com aquelas dimensões, possui uma fisionomia específica. E, pelo carácter subtil e complexo que a questão sigilosa lança nas relações que temos com os outros, surgem reacções interiores, psicológicas, como a vergonha, a culpa, o embaraço; seja porque o segredo está ligado a uma mentira, ou, simplesmente, porque algo, que era íntimo e privado, foi divulgado. Que lugar há na nossa cultura para uma vivência do segredo? A obra finaliza com uma reflexão sobre as relações da pedagogia e do segredo. Como lidam os adultos, pais e educadores, com o aspecto sigiloso da alma das crianças? É necessário encontrar um equilíbrio entre, por um lado, a supervisão, o cuidado atencioso, o apoio e protecção que os adultos devem dar às crianças, e, por outro, a privacidade, os segredos e silêncios da criança, a sua liberdade e individualidade.