De um tempo tão distante, que partimos em bondes elétricos para admirar a elegância das damas em vestidos brocados e cavalheiros de palhinha à cabeça, o Menino, nascido raquítico, ictérico e cabeçudo, abre sua velha caixa de charutos Suerdieck e compartilha com a gente seus tesouros: a fábrica de gaiolas, o encanto pelas palavras, a pindaíba financeira, a guia ofertada no candomblé, o sobrenome frondoso, o Hidrolitol, o umbigo seco de um filho, as rotativas, as casas que viveu e tantas outras forças misteriosas. Está tudo lá. Conduzidos pelas suas mãos, cedo calejadas, passeamos por um subúrbio rural carioca quase surreal se comparado aos dias de hoje. Odir Ramos da Costa, dramaturgo, romancista e jornalista, nasceu no Rio de Janeiro. Em suas obras, a memória da cidade é registrada com seu humor ácido e sensível, com destaque para as peças teatrais Sonho de uma noite de velório (1975), Sopros de paz e guerra (2015), Palavras no chumbo derretido (2009) e Comitê de Vila Maria ou Araponga (1976). Entre suas peças teatrais estão No tempo do corta jaca, É duro, irmão (coautoria de Eduardo Borsato), Mate com limão e cicuta. Publicou ainda os livros de crônica, Na terra do Melhoral (Edital, 1991), Buquê para Faceira (Chiado, 2015) e As manhas do povo (Ibis Libris, 2012). Apresentação de Aruanã Bento e Raphael Pizzino.