Esta obra investiga a clínica dos equipamentos de saúde mental da Rede de Atenção Psicossocial voltados ao uso prejudicial de substâncias psicoativas. Partindo da demanda de tratamento por parte de usuários internados, tal demanda é incluída no debate da clínica, intitulada pelos psicanalistas de clínica da toxicomania, bem como no debate sobre as políticas públicas sobre drogas, levando-se em conta a premissa tácita de que aquele que faz abuso de substância psicoativa não tem demanda de tratar-se. No atual contexto de desmonte do Estado quanto às políticas de proteção e saúde pública, a clínica destinada a responder a essa demanda encontra-se dominada por grupos privados de cunho religioso. Nesse contexto, a hipótese para a adesão ao tratamento oferecido pelas Comunidades Terapêuticas, assim como para os outros fenômenos encontrados nesta clínica, é a de que, além do desinvestimento dos gestores na Reforma Psiquiátrica e do interesse mercadológico, ao funcionamento neurótico prevalece o empuxo à identificação, à formação de grupo, o que gera, consequentemente, segregação e violência. Seguindo as indicações de Sigmund Freud e Jacques Lacan, a obra aborda o funcionamento do Supereu como mandante de um gozo de autoflagelação e fracasso, no qual a droga pode ou não ser incluída. Também percorre os conceitos de passagem ao ato e acting out, além de trazer fragmentos desta clínica, na tentativa de fomentar reflexões aos que dela fazem parte.