No início do século VI antes de Cristo, em algumas cidades gregas da Jônia, alguns técnicos (astrônomos, matemáticos, médicos) começaram a observar seus objetos de estudo a partir de uma perspectiva diferente, que paulatinamente passou a ser chamada de filosofia. Os astros, os números, os pacientes, que eram aquilo que eram, passaram a ser considerados entes (ou seja, coisas que são), e os técnicos acima mencionados passaram a se interrogar sobre o que havia neles que os fazia ser. E as respostas foram as mais variadas: elementos primordiais, átomos, equilíbrios de forças, etc.
Um século depois destes primeiros passos da filosofia, um cidadão de Eleia, Parmênides, decidiu privilegiar uma experiência prévia: antes mesmo de se interrogar pelo fundamento dos entes deve-se admitir que há entes (ou seja, coisas), e, se há entes, é porque há algo que os faz ser. Este fato de ser, espécie de força dinâmica que traça o limite entre o que é, que a assume, e o nada, que a ignora (e que por isso mesmo... é nada) é o objeto do tratado de filosofia que Parmênides apresentou sob a forma de um poema didático. Ciente de que todos devem admitir que, se são, é porque estão sendo, e que, se estão sendo, é porque há ser, Parmênides escolheu um meio de expressão fácil de memorizar: a poesia. Seu poema é uma apresentação exaustiva da força indubitável e inegável do fato de ser, bem como da debilidade de toda teoria que pretenda negá-lo. As passagens que chegaram até nós revolucionaram a história da filosofia. Tivesse seu poema sido preservado em sua totalidade, seguramente a história intelectual do nosso Ocidente seria diferente.