Publicado em 1875, dois anos antes da morte do autor, Senhora é um dos principais romances urbanos de José de Alencar, e uma de suas críticas sociais mais contundentes. Narrativa dividida em quatro partes, conta a história do casamento entre Aurélia, moça pobre e órfã que acaba se tornando herdeira de grande fortuna, e Fernando Seixas, frequentador dos altos círculos da corte, mas incapaz de manter financeiramente sua vida luxuosa.
Apaixonada por Seixas em seus dias de pobreza, Aurélia é trocada pelo amado por uma moça com um dote de trinta contos de réis. Em uma das muitas reviravoltas do enredo, porém, Aurélia acaba herdeira de grande fortuna, e atrai Seixas de volta para si, anonimamente, em troca de uma quantia três vezes maior. No entanto, logo na noite de núpcias ela revela seu expediente e toda a hipocrisia inerente à transação da compra do
marido, e a partir de então a relação dos recém-casados se torna um jogo mordaz de intrigas, manobras sigilosas e diálogos ácidos e repletos de subentendidos.
Com sua narrativa concentrada na vida ociosa das classes abastadas e sua existência parasitária em torno da corte imperial, Senhora retrata um momento de transformação da sociedade brasileira, em que os valores patriarcais são cada vez mais deixados de lado em detrimento do poderio financeiro da burguesia ascendente e seu poder de influência na vida cotidiana, o que o torna ao mesmo tempo uma obra de arte representativa de um momento definidor da literatura brasileira e um documento precioso de uma transformação social que se mostraria irreversível.