O livro Ser mãe é... é resultado de inquietações da pesquisadora Ariane Pereira a partir de suas leituras, enquanto mãe, de revistas voltadas para quem espera ou tem um bebê. Vendidas como manuais de puericultura — destinados, por exemplo, a ensinar a cuidar do umbigo, a melhor hora e forma de desmamar, como fazer papinhas nutritivas —, essas publicações, em suas páginas, demonstram ser muito mais do que isso. Configuram-se como definidoras de condutas condizentes com a maternidade, com o ser boa mãe em oposição àquelas que não são próprias ao exercício de amor desmedido, tipificador da maternidade nas sociedades ocidentais contemporâneas. é essa direção das condutas maternas que interessa a este estudo, que se desdobra em duas partes, cada uma contendo dois capítulos. Na primeira são analisados como dois dos imperativos contemporâneos, o aquecimento global/efeito estufa e o trinômio felicidade-autoestima-sucesso, repercutem diretamente no que concerne à maternidade. Nos dois casos, os discursos jornalísticos evidenciam uma responsabilização da mulher-mãe, que deve assumir dois papéis, o de paladina do verde e o de heroína da performance. Movida pelo superpoder do amor-materno, a mulher-mãe, respectivamente, seria a única capaz de reverter o caos climático e teria papel ímpar na formação dos capitais humano e social de seu filho. A maternidade, assim, é pontuada por uma série de atos de heroísmo, mas também por um contínuo exercício de superação, tema da segunda parte desta reflexão. Corresponder ao esperado social e individualmente quando se é mãe implica em colocar-se em combate pelo restabelecimento da criança enquanto indivíduo confiante e empreendedor. Portanto entre as responsabilidades maternas estão o zelo pelo bem-estar físico e psíquico da criança e a atuação para reverter problemas que podem levar à desvantagem competitiva, como a hiperatividade, a tristeza/depressão e a timidez. Empreitada marcada pela busca pela perfeição que, não atingida, leva à culpa. Essa culpabilidade, característica da maternidade contemporânea, é analisada no último capítulo, que busca mostrar por que a sensação de estar sempre em falta é fundamental para a manutenção da mulher-mãe responsável e responsabilizada pelo desenvolvimento físico e psíquico da criança.