As “práticas de cura” presentes nas sociedades amazônicas, tradicionalmente, vêm sendo vistas por acadêmicos como “magias” ou simples “práticas” culturais. Esta coletânea de textos, entrevistas e relatos inova ao defini-las como a Medicina Tradicional Popular Amazônia (MTPA), por possuir um sistema de técnicas propedêuticas bem elaboradas, que correlaciona dados anatômicos, fisiológicos, emocionais e espirituais em busca de um diagnóstico, tendo a terapêutica prescrita fundamentos fitoterápicos, massoterápicos e espiritualistas. É uma medicina holística. Por ser espiritualista, a MTPA não pode ser compreendida através da perspectiva materialista biologista da medicina alopática. Novas possibilidades de abordagens podem ser encontradas na fenomenologia e na ciência quântica. Ao atender às recomendações da Organização Mundial da Saúde, o governo brasileiro criou políticas visando ao atendimento humanizado e à inclusão de fitoterápicos populares e de algumas terapias holísticas no Sistema Único de Saúde (SUS). Contudo, a dubiedade dessa política em relação à MTPA e seus terapeutas, dificultando o diálogo de saberes, reduz os benefícios que uma política dessa natureza poderia propiciar à saúde coletiva. Outra dificuldade está na impossibilidade de profissionais de saúde formados na visão biomédica dos processos de adoecimento e cura compreender, cientificamente, e valorizar os conhecimentos dos terapeutas da MTPA.