O ano é 2019. O local, um mercado úmido na cidade chinesa de Wuhan. O resto da história, todos nós já sabemos: um vírus “salta” de um animal selvagem para uma pessoa que o manuseia e, em alguns meses, ceifa milhões de vidas humanas em todos os continentes. Entretanto, foi o conhecimento sobre a biodiversidade que impediu que o Homo sapiens ficasse de braços cruzados, imóvel diante dessa catástrofe. As noções acumuladas a respeito das relações ecológicas entre hospedeiros e parasitas - desde a escala da paisagem em que elas ocorrem até seus mecanismos em nível molecular - embasaram medidas como lockdowns e vacinas, fundamentais para a contenção da pandemia de COVID-19. Medicamentos extraídos da fauna e da flora podem, ainda, amenizar este e outros males que afligem a humanidade. A prospecção do potencial de uso desses recursos naturais é, portanto, uma estratégia eficaz. Quanto às serpentes dos biomas brasileiros, estamos avançando com os passos de Otavio Marques, André Eterovic e Ivan Sazima, que reuniram a contribuição de várias gerações de cientistas. A intervenção de Marcio Martins é crucial para este tomo sobre as espécies da floresta amazônica. Combinando informações certificadas com fotografias esplêndidas, a apresentação da biologia desses animais é acessível tanto ao pesquisador profissional quanto à audiência ainda não alfabetizada. A identificação correta dos elementosda natureza é a primeira etapa para o reconhecimento de seu valor utilitário. Do mesmo modo, a percepção do valor intrínseco desses itens pode desencadear no cidadão o desejo de sua conservação para as gerações vindouras, no cursoe volutivo com a mínima intervenção antrópica. Essa é a aposta dos autores deste “Serpentes da Amazônia”, absolutamente encampada pela Editora Ponto A.