O presente livro reflete sobre a polêmica da religiosidade para os campos da Saúde Mental e do Serviço Social brasileiros, compreendendo-a como uma dimensão complexa e contraditória para tais campos: mecanismo de castração ou apoio social; e dimensão de conservadorismo ou de insurreições e inconformismo latente. Os campos da Saúde Mental e da profissão de Serviço Social, na realidade do Brasil, assumiram o projeto moderno de defesa intransigente dos direitos humanos, ao tempo em que se contrapuseram às tendências conservadoras, obscurantistas e reacionárias, as quais têm por baliza um ideário religioso. A proposta de intercurso teórico, sinalizada neste livro, entre as temáticas do Serviço Social, Saúde Mental e religiosidade, tem, portanto, natureza polêmica. Certamente que há coerência e preocupação legítima em tal polêmica, uma vez que retrocessos se avizinham de todos os lados para os campos em questão, os quais ameaçam projetos de defesa dos direitos humanos. Todavia, o rigor reclama a necessidade de apresentar a religiosidade como uma dimensão complexa e contraditória, tanto para o campo da Saúde Mental como para o Serviço Social brasileiro: mecanismo de castração ou apoio social; e dimensão de conservadorismo ou de insurreições e inconformismo latente. Trata-se de uma reflexão que pode contribuir para uma abertura do Serviço Social a uma aproximação das expressões culturais das classes subalternas, seus modos de vida e de resistência, compreendendo que a luta pela emancipação não deve prescindir de aproximações com as dimensões da subjetividade e cultura humanas, elementos que, de variadas formas, podem cooperar com processos de libertação.