Ao invés dos românticos de Iena trabalharem de modo rígido com a ideia de fidelidade, submetida ao paradigma tradicional da representação, eles preferiam pensar a partir de conceitos como o de oscilar (Schweben), ironia, autorreflexão, desdobramento, dissimulação (Verstellung), alegoria e mesmo de tradução, como operadores para se conceber toda a cultura. Eles formularam uma noção de ser como ex-istir, constante processo de construção e desconstrução, saída e volta a si. A partir da autorreflexão, modelo de ser como encontro-desencontro com o Outro, Eu-Tu, eles entronizaram um conceito de ser como errância e devir essencialmente anti-fundamentalista (o contrário do que ocorrerá com o romantismo conservador que os sucedeu) e muito necessário de ser atualizado para nossa época. Convido os leitores a embarcar nessa nau um tanto agitada do pensamento dos Schlegel e turma sob o comando da pena afiada de Constantino Luz de Medeiros que em sete lições palmilha por alguns dos pontos altos desses pensadores indomáveis. Se o pensamento desses autores iluminou intelectuais como Thomas De Quincey, W. Benjamin, os surrealistas franceses, Eva Fiesel, M. Bakhtin, M. Blanchot, T. Todorov, Ph. Lacoue-Labarthe, J.-L. Nancy, Paul de Man, Haroldo de Campos, entre tantos pensadores do século XX, nesta nossa época de profundo e necessário revisionismo contracolonial de nossos dogmas, cânones e paixões, mais do que nunca temos aqui muita semente (pólen, Blüthenstaub) para colher da seara primeiro romântica e fazer brotar. (Márcio Seligmann-Silva)