Este é um romance político. Aborda os costumes da sociedade de uma cidade do interior nos fins dos anos 50, dominada ainda pelo coronelismo, não inteiramente fustigado pelo extinto regime ditatorial de Getúlio Vargas. O objetivo, contudo, não é o histórico, eis que o autor se volta, precipuamente, para a observação do comportamento sociopolítico local da época, que, infelizmente, ainda permanece o mesmo em muitas regiões do Brasil, não obstante já haver transcorrido quase meio século depois da ambientação do romance. O autor, jurista experiente, apresenta ao público um enfoque inédito. Mostra o exercício do poder por famílias preeminentes, que influenciam e dominam os líderes locais não só no aspecto político, mas envolvem a própria população e interferem no seu destino. Atado ao poder decisório de cúpula, o povo passa a depender dessas famílias, as quais se submetem servilmente, com as exceções másculas das personagens que o livro faz emergir. Através de narrativa direta e envolvente, o autor, aos poucos, entrelaça os fatos e dá característica singular aos participantes da trama, expondo suas angústias e inquietações. Ao mesmo tempo, vai reconstruindo e resgatando o edifício social existente na época. Cada protagonista se posiciona ante o dilema em que se encontra, de se evolver ou de se sucumbir politicamente, antevendo, ainda que de forma fugidia, a imperiosa exigência de mudanças na sociedade. Nesse contexto, sua contribuição se torna indispensável. Ousará tomar a decisão mais acertada? A despeito de tudo, para alguns ainda há a esperança na correta aplicação da lei e na predominância da Justiça. Todo esse panorama compõe a pintura de fundo da tela, da qual, destaca-se, como objeto principal e linha mestra da obra, um caso de assassinato político, julgado pelo júri, na sala secreta, cujo resultado abalou os alicerces da sociedade local.