Os contos de tradição popular, além de refletirem os costumes, valores e crenças das civilizações, desempenham o importante papel de tentar desvendar as grandes questões da humanidade, para as quais cada povo encontra sua própria resposta. Pois a morte é um desses temas inquietantes que vêm fascinando e, ao mesmo tempo, atemorizando sociedades ao longo da história.
Afinal, como disseram os autores deste livro, “a morte nos tira as pessoas que amamos e também aquelas que nem conhecemos. O destino vem e corta nossos sonhos. A morte interrompe o fluxo das coisas e nos obriga ao silêncio”. Ela é fonte de angústia e tristeza, e falar sobre a morte nos causa desconforto, porque assim deparamos com a única certeza, dentre as tantas incertezas, de que tudo um dia chega ao fim - ao menos por estas terras.
Nestas Doze histórias universais sobre a morte, recontadas com toda a graça e sensibilidade por Ilan Brenman e Heidi Strecker, esse fenômeno percorre o mundo e adquire os mais diferentes aspectos, o que mostra, inclusive, que nem todos enxergam a morte como algo que se deve recear e lamentar.
Como vemos aqui, na antiga civilização maia os índios quichés explicavam o surgimento da humanidade a partir de algo familiar a nós brasileiros: um bate-bola entre os senhores do Mundo Subterrâneo - a morte por excelência - e os gêmeos Hunahpu e Xbalanque. Entre os sumérios, na antiga Mesopotâmia, o príncipe Gilgamesh é tomado pelo medo da morte depois de presenciar o triste fim do amigo Enkidu e procura o segredo da imortalidade, mas acaba por descobrir a beleza de sua condição efêmera. Já no mito xintoísta japonês, é das lágrimas de Izanagui, que sofre com a perda de sua amada, que nascem Amaterasu, o deus do sol, e Tsuki-Yomi, o deus da lua, formando-se assim o universo.
Entre contos mais difundidos e outros menos conhecidos entre nós, esta coletânea nos faz pensar na morte e, talvez acima de tudo, também nos permite refletir sobre a própria aventura de viver.