Livros de cientistas sociais sobre as experiências comparadas do Brasil e da Argentina em contexto internacional de globalização são uma raridade. Este se destaca não só pelo pioneirismo em ancorar as mudanças que ocorreram nos dois países em sua forma de inserção no sistema internacional, mas também por outras características que compõem a originalidade e a alta qualidade das suas análises. Uma delas é o que eu chamaria de uma inversão da pauta habitual dos estudos corporativos. Em lugar de pesquisar o impacto das mudanças no cenário internacional nos dois países, estes é que são resituados, à luz das mudanças recentes na estrutura e no desempenho de um sistema internacional movediço e instável, mas previsível em seus contornos. São exatamente esses contornos que Viola e Leis procuram detectar através da análise de processos globais (não do conceito guarda- chuva de globalização), antes de abordar uma família – a latino – americana – dentro de um gênero maior, o das democracias de mercado. Ao explorar as razões para a hegemonia desse gênero – uma tarefa teórica de alto-risco – o fazem escudados em sólida pesquisa empírica e no que há de melhor na teoria social, política e das relações internacionais. Por isso, como é típico dos que combinam conhecimento, vocação intelectual e garra, esse livro revela que os autores não tiveram medo nem das alturas nem tampouco de perder o pé. Coerência e sistema são outras tantas qualidades.